“Manipulações e populismos”

O tempo em que vivemos é de grande incerteza, e aquilo que parecia provável poder acontecer está aparentemente ao virar da esquina: à crise sanitária (provocada pela pandemia) está a juntar-se uma crise económica ainda disfarçada e uma crise social que é visível na opinião pública e nas redes sociais, assente no negacionismo, na descrença na evidência científica, na gestão pública, no populismo que vários políticos começaram já a assumir, alguns porque já sabem que daqui a um ano terão que disputar um ato eleitoral onde não existirão eventos de campanha de massas, nem campanhas de rua onde o lado solar dos candidatos sempre ajuda a convencer as massas…

 

Só que em setembro de 2021 não será assim, o que obrigará a novas abordagens de campanha que começaram já a ser testadas/implementadas como: uso massivo das redes sociais com estratégias de vitimização em jogos de combate político em campo aberto de confrontação ideológica; uso de regimentos de perfis falsos para ataques sem quartel nas redes sociais; apelo a iniciativas sentimentais de pertença claramente eleitoralistas a coberto de estratégias de marketing do concelho, mas claramente de promoção de quem ocupa a cadeira do Poder.

Por vezes precisamos recordar como a ditadura em Portugal recorreu a essas mesmas estratégias, personificados nos 3 F: Fado, Fátima e Futebol. A tentativa de limitação/controlo da comunicação social e a gestão dos assuntos no espaço mediático; o culto da personalidade; a promoção do culto do espaço geográfico; redes ocultas de vigilância… Será que estamos, no nosso espaço geográfico concelhio novamente a assistir a um filme com o mesmo guião de tempos idos? Com que objetivos?

 

Na semana passada o Governo decidiu impor  a 3 concelhos da nossa região do Tâmega e Sousa, nomeadamente Paços de Ferreira, Lousada e Felgueiras medidas mais restritivas para controlo da propagação da infeção pelo novo Coronavírus.

Os Presidente das Câmaras de Paços de Ferreira e Lousada remeteram-se ao silêncio e promoveram iniciativas mediáticas junto da população para que esta tomasse medidas ainda mais responsáveis, aconselhando a que durante o fim de semana os seus munícipes ficassem em casa e conscientemente contribuíssem positivamente para o objetivo maior.

Quanto a Nuno Fonseca  multiplicou-se em entrevistas “denunciando” a injustiça da medida atendendo aos números e às projeções conhecidas, procurando explorar mais uma vez uma possível atitude discriminatória para com o concelho. É óbvio que segundo os dados conhecidos os concelhos de Paredes e Penafiel apresentam também risco muito elevado de contágio, mas não podemos nem devemos contaminar a nossa análise por eventuais erros das autoridades governamentais e de saúde, e isto porque: Felgueiras ocupava no período de 5 a 19 de outubro a 11.ª posição dos concelhos com maior incidência num total de 308, com mais de 120 novos casos por 100 mil habitantes; as características industriais da atividade no concelho implicam aglomerações de pessoas nos ambientes de produção, e nos transportes, o que sabemos são fatores de risco consideráveis; são conhecidos os problemas nos transportes escolares com casos em não é respeitada a distância recomendada, por mais que o Presidente de Câmara garanta que está a ser respeitada a lotação máxima dos autocarros  – pelos relatos orais e visuais de que se tem conhecimento, estas são duas realidades incompatíveis e perigosas para a saúde da população -; relativamente aos cuidados de saúde os 3 concelhos visados pelo Governo para implementação de medidas adicionais têm uma governação única dos Centros de Saúde através do ACES Tâmega III e são conhecidos os problemas de acesso da população a cuidados nos centros de saúde pelos imensos relatos divulgados, sendo exemplos o Centro de Saúde de Felgueiras, o Centro de Saúde da Longra, o Centro de Saúde do Marco de Simães; o Hospital de referência para o concelho de Felgueiras está no limite de atuação, tendo já sido instalado um hospital de campanha do INEM, encontrando-se em situação de pré-ruptura, sendo o hospital do Norte com maior número de doentes internados por Covid-19.

Por isto, de facto é necessário tomar medidas que ajudem a controlar o contágio da pandemia na nossa região para evitar o colapso na prestação de cuidados de saúde o que seria trágico.

O controlo da pandemia não se faz com desvio de atenções, desfocando a população do que é importante. Este não é um tempo de show-off nas rotundas, nem de exacerbar da identidade. É tempo de responsabilidade na ação: o que falhou no plano que o Executivo Municipal começou a trabalhar em setembro em antecipação da 2.ª vaga?; quais as medidas a implementar atendendo ao risco muito elevado de contágio no concelho sabendo-se que esse controlo é determinante tendo em conta as dificuldades das entidades de saúde na resposta?; porque não se tomam medidas “musculadas” como o encerramento dos cemitérios no próximo fim de semana, tomando como exemplo o que decidiram outros concelhos?; o executivo já reuniu extraordinariamente para discutir estratégia e ação?…

A resposta é o lançamento de uma campanha de renovação da imagem do concelho assinalando os 3 anos de mandato do Presidente Nuno Fonseca, realizada por ajuste direto a uma empresa de Viseu, por mais de 17 mil euros… Já agora foram consultadas quantas entidades para este ajuste direto do regime geral? 1 ou 3? Porque foi escolhida esta?

Porque não foi criado um concurso de ideias para definição de uma nova identidade do concelho?…

… São muitas perguntas, e a evidência do passado diz-nos que há poucas respostas!