
A construção de uma linha que ligue Felgueiras à rede ferroviária nacional é uma “questão de justiça” do país para um concelho cujas empresas faturam mais de 1,8 mil milhões de euros, disse hoje à nossa redação o presidente da câmara.
“Somos o maior exportador da região do Tâmega e Sousa, estamos entre os mais fortes na região norte e contribuímos assim, de forma muito significativa, para a riqueza nacional há muitos anos”, afirmou Nuno Fonseca, para quem o “dinamismo económico de Felgueiras” pode ser potenciado pela ligação à rede ferroviária nacional.
O presidente da câmara, que cumpre o seu primeiro mandato, tem-se empenhado, nos últimos meses, na reivindicação junto do Governo de uma ferrovia que ligue o concelho à Área Metropolita do Porto, aproximando o setor produtivo daquele território às infraestruturas aeroportuárias do litoral.
Nuno Fonseca participou, na segunda-feira, em Paredes, na apresentação do estudo preliminar da Linha do Vale do Sousa, apadrinhado por cinco municípios do distrito do Porto.
Aquela possível infraestrutura, com 36 quilómetros de extensão, ligaria a estação de Valongo, na Linha do Douro, a Felgueiras, passando pelos concelhos de Paredes, Paços de Ferreira e Lousada. Os promotores do estudo estimam que a construção da via-férrea possa custar cerca de 300 milhões de euros. As cinco autarquias defendem que o Plano Nacional de Investimentos PNI 2030, que o Governo quer implementar, poderia ser uma fonte de financiamento da infraestrutura com recurso a fundos comunitários.
Apoio do Estado “nem sempre tem acontecido ao longo de décadas”
Em declarações à nossa redação, o autarca de Felgueiras defendeu hoje que o contributo líquido do seu concelho para a riqueza nacional é credor da atenção do Estado português, o que, lamentou ainda, “nem sempre tem acontecido ao longo de décadas”.
“É uma questão de justiça”, reforçou, recordando que Felgueiras é dos poucos concelhos do país com mais de 60 mil habitantes que não tem comboio, sofrendo de grandes problemas de mobilidade e congestionamento da rede viária.
Acresce, prosseguiu, que outros concelhos industriais que poderão ser servidos pela linha, como Valongo, Paredes, Paços de Ferreira e Lousada, onde se encontram polos importantes das indústrias de mobiliário e têxtil, são também contribuintes importantes para a riqueza nacional.
“Somos uma das regiões mais dinâmicas do norte do país, onde vivem mais de 400 mil pessoas, apesar de não termos a via-férrea. Tenho a certeza que essa infraestrutura, que agora estamos a reclamar, tornaria a nossa economia mais competitiva e contribuiria, ainda mais, para os cofres do Estado. Era, por isso, um bom investimento da administração central”, indicou Nuno Fonseca.
Comboio potenciaria dinamismo económico do concelho
O autarca de Felgueiras recordou, por outro lado, que o seu concelho, que é o maior produtor e exportador de calçado em Portugal, tem falta de mão-de-obra, sobretudo no seu setor predominante. A existência de uma ligação ferroviária permitiria que pessoas de outros municípios, incluindo do litoral, pudessem chegar com mais facilidade a Felgueiras e terem ali o seu emprego, uma vez que aquela cidade ficaria a cerca de 50 minutos de comboio do Porto.
A existência em Felgueiras da única escola superior do Instituto Politécnico do Porto, no interior do distrito do Porto, é, segundo Nuno Fonseca, outro fator que justifica a aposta num meio de transporte moderno e amigo do ambiente, como o comboio, que facilite a mobilidade dos estudantes de outros territórios que queiram apostar numa “região com grande potencial económico”, como é o Vale do Sousa, cujas empresas precisam cada vez mais de mão de obra qualificada.
Turismo também ganharia com o novo meio de transporte
Aquela via férrea, reforçou ainda, retiraria do Porto milhares de veículos, incluindo muitos pesados, oriundos dos concelhos do Vale do Sousa, contribuindo assim para a descarbonização, que tem sido um dos objetivos do Governo.
O turismo poderia ser, concluiu, outro fator de dinamismo económico a incrementar no território, com a chegada do comboio, recordando que nos vários concelhos atravessados pela linha estão alguns dos mais relevantes monumentos da Rota do Românico.
Armindo Mendes